A caminhada está iniciada, resta saber a forma como vamos percorrer o caminho. Será que o vamos sentir nos pés, será que o vamos sentir nas mãos, será que o vamos sentir como uma brisa nos cabelos? Será que o vamos deixar de sentir. E mesmo que o façamos, será o suficiente para não percorrermos o caminho. Muitos de nós estão pesados, têm malas e malas, alguns trazem baús e outros usam veículos para carregar tanta coisa que vão precisar quando chegarem ao destino. Provavelmente, alguns vão querer ficar sentados, mesmo que seja no meio do caminho, afinal até aqui tem sido uma montanha-russa de pisos, pavimentos e escolhas, e a carga é pesada, o corpo dói e o sonho foge. Outros já antevêem o destino, outros sabem que tal coisa não existe e o que conta é a viagem. Eu creio que pertenço a este último grupo, ainda tenho uma mala ou duas, mas cada vez mais olho menos para elas, ainda as arrasto mas coloquei-lhes umas rodinhas, parecem mais leves, só que ainda pesam. Caminho e o chão é sentido nos pés, não com desconforto, mas com a certeza que tenho corpo e que posso ir fazendo o caminho, sinto a brisa nos cabelos, sinto porque estou atenta, afinal é uma brisa. Faço o caminho pela viagem e aprecio cada momento, uma vez ou outra sento-me à beira da estrada principal, observo os meus companheiros, saúdo-os e desejo-lhes força e alegria, elogio a coragem dos que experimentam atalhos, azinhagas e até desbravam novos trilhos.
Neste momento, estou parada na beira da estrada, olho os meus irmãos, vejo a estrada e observo os novos trilhos, estou a decidir o que fazer, abri uma mala e olho para o conteúdo, penso se ainda tenho que transportar estas coisas, penso se o que elas significam não existe e vive em mim, será que ainda preciso destas coisas para me lembrar, para amar…olho um velho caderno de apontamentos, abro em busca de um significado, de uma resposta. O que encontro faz-me sorrir, fala de uma oposição do senhor Saturno ao arrojado Úrano e como apontamento coloquei de lado a anotação: “O que não tem consistência é abandonado”. Faz-me sorrir e começar a decidir….
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